quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Porquê «O Protesto»?

Nuno Lima Bastos
Jornal Tribuna de Macau
21 de Fevereiro de 2008

«Primeiro, vieram buscar os comunistas
E eu não protestei, porque não era comunista.

Depois, vieram buscar os sindicalistas
E eu não protestei, porque não era sindicalista.

Depois, vieram buscar os judeus
E eu não protestei, porque não era judeu.

Finalmente, vieram buscar-me
E já não restava ninguém para protestar.»


(Martin Niemöller, 1892-1984)

Acedendo ao amável convite que o Jornal Tribuna de Macau me dirigiu, inicio hoje uma coluna semanal que escolhi designar por O Protesto. Porquê O Protesto? Talvez por alguma irreverência que me está no sangue, também por entender que uma coluna de opinião não pode ser acrítica, certamente por olhar à minha volta e assistir a uma realidade que encerra tantos motivos de protesto.
Já sabemos que não há sociedades perfeitas nem governos irrepreensíveis, mas esquecemo-nos muitas vezes de dar o nosso indispensável contributo para que o mundo melhore – até, um dia, os problemas nos tocarem...
Num meio pequeno como Macau, onde “todos se conhecem e tudo se sabe” (pelos vistos, com algumas excepções relevantes, como temos vindo a constatar no mega-processo Ao Man Long e seus derivados...), é particularmente ingrato fazer opinião: qualquer assunto que abordemos acaba sempre por tocar, directa ou indirectamente, em alguém do nosso círculo de conhecimentos, quando não mesmo do nosso meio profissional (ou, ainda pior, familiar). Remetemo-nos, então, ao silêncio ou à verborreia inócua: o profissional liberal e o empresário não opinam porque não querem perder clientes, actuais ou potenciais, assim como o trabalhador por conta de outrem se não manifesta porque não quer ser prejudicado no seu emprego ou, até, perdê-lo.
As maravilhas da tecnologia vieram dar uma pequena ajuda e surgiram, então, os omnipresentes blogues, onde, frequentemente a cobro do anonimato, se opina sobre muito do que por aqui acontece. Percebo essa forma de intervir em Macau, até porque esta terra pode ser francamente madrasta para quem dá a cara pelas suas convicções, mas o anonimato retira impacto às ideias e presta-se a todo o tipo de abusos.
Preferi sempre, por isso, fazer uso do espaço que a comunicação social local me foi proporcionando ao longo dos anos e partilhar abertamente com a nossa comunidade a minha leitura do que por cá ia acontecendo. Sofri alguns dissabores com isso, é verdade, mas é assim que me sinto bem com a minha consciência. É claro que preferia que o debate franco de ideias não fosse personalizado. Eu não o personalizo. Mas nunca deixarei de me manifestar por outros assim o entenderem.
Apesar de tudo, sinto que alguma coisa está a melhorar em Macau: hoje, a população organiza-se mais e luta pelos seus direitos, as associações são mais reivindicativas (até as tradicionalmente alinhadas com o poder), a Assembleia Legislativa deixou de ser uma mera câmara de ressonância do Executivo (apesar de algumas figuras ignóbeis que por lá continuam a pairar) e encontramos também nos media mais gente a exercer individualmente o seu direito ao protesto. Semanalmente, cá estarei a exercer o meu!

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