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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Um deplorável incidente

Nuno Lima Bastos
Jornal Tribuna de Macau
1 de Outubro de 2010

Agora que já ficaram para trás as eleições legislativas locais e portuguesas, que os votos recontados já tiveram o merecido destino e que o presidente da república já quebrou o tabu das “escutas”, parece-me ser boa altura para, enfim, partilhar com os meus leitores um deplorável incidente a que fui sujeito há três semanas, ou não estivesse ele intimamente associado ao livre exercício do direito de opinião que venho praticando neste espaço desde Fevereiro de 2008.

Como é sabido por quem costuma ler as minhas crónicas, ocupei largo período dos meses de Verão a rever a génese da Fundação Jorge Álvares, em finais de 1999, e as reacções públicas profundamente negativas, aqui e em Portugal, que se seguiram à revelação dessa iniciativa envolvendo o último governador do território. Lateralmente, abordei outros factos contemporâneos desse processo, como a criação do Instituto Internacional de Macau ou os avultados subsídios que o general Rocha Vieira reclamou e recebeu por férias supostamente não gozadas ao longo do seu mandato de quase nove anos.

Tive o cuidado de tudo documentar. Além disso, não recorri ao que eu próprio então escrevera (houve textos meus publicados ou citados no Ponto Final, no Diário de Notícias e no Público, por exemplo), para não cair no duplo papel de fonte e autor. Preferi, ao invés, recorrer à investigação, à narração e à opinião de terceiros que considerei fontes credíveis – profissionais da informação que, ainda hoje, são respeitados no seu meio. Citei algumas posições contrárias, mas em bastante menor escala, por uma razão que julgo (ou julgava...) óbvia: porque, na minha óptica, não apresentavam dados susceptíveis de desmentir os factos que iam caindo no domínio público, antes se ficando por valorações puramente subjectivas de sinal contrário. Nas raras vezes em que o conseguiram fazer, curei de o referir ou, pura e simplesmente, nem sequer fiz uso dos elementos objectivamente refutados.

Tenho, pois, a consciência descansada em relação ao trabalho que levei a cabo ao longo de onze semanas (entre 18 de Junho e 3 de Setembro). O que não tenho, nem pouco mais ou menos, é a pretensão de que toda a gente concorde comigo, muito menos os “visados” nos meus textos (embora a minha preocupação seja denunciar factos; não entrar em ataques pessoais). O mundo é mesmo assim...

O que me traz hoje, então, de volta a este assunto? “Apenas” isto: há, exactamente, três semanas, no final de uma mesa-redonda como tantas outras que costumam ter lugar no território, uma das figuras citadas no conjunto de artigos a que chamei de «antologia da transparência» veio falar comigo. Manifestou-me a sua insatisfação pela minha iniciativa, queixando-se de «falsas» acusações. Recordei-lhe que identificara todas as fontes e sugeri-lhe que redigisse a sua própria versão dos acontecimentos – um direito que lhe assistia e que poderia exercitar com facilidade, ou não beneficiasse de exposição semanal neste mesmo matutino. Depois, os leitores que tirassem as suas conclusões.

A conversa prosseguiu em tom civilizado por mais alguns minutos, até que expressei a minha incompreensão por determinadas palavras que o general Rocha Vieira proferira sobre a Fundação Jorge Álvares em Junho último, no retorno a Macau. Basicamente, e citando agora o Hoje Macau de 15 desse mês, por ter afirmado que «cumpri o meu dever e nunca deixei de dormir por causa da fundação. Não acredito que haja fundações com maior transparência que esta». Perturbava-me a incapacidade do ex-governador em esboçar um mea culpa, por muito tímido que fosse.

O meu interlocutor começou a exaltar-se. Retorquiu-me com um repetido «nem tinha que fazer», insistindo que o general fizera tudo bem. Perante isso, deixei claro que nada tinha a alterar na minha «antologia», pois ela traduzia a minha convicção dos factos.

Qual a minha estupefacção quando, em tom assaz agressivo, e não obstante se encontrar já outra pessoa connosco, me dirige estas palavras: «sabe o que eu tive vontade de fazer quando li aqueles artigos pela primeira vez? Tive vontade de lhe partir a cara. Eu devia era partir-lhe esses dentes todos. Sabe o que você é? Um filho-da-puta! Um filho-da-puta, é o que você é!». Posto isto, virou-me, de imediato, as costas e meteu-se num elevador com outras pessoas que passavam no momento.

É verdade que o autor de tão ignóbil atitude foi o mesmo que, numa entrevista à TDM em 4 de Março de 2000, lançou esta despudorada ameaça a destinatários incertos: «quero deixar também este alerta: que estejam atentos também a isso, porque quem não tem o mesmo interesse que todos nós em relação ao futuro de Macau merece ser isolado. Tenho que dizer isto com muita franqueza e muita convicção. Merece ser isolado, ser bem identificado. E se não quiser, se não se sentir bem aqui, olhe, há muitos sítios onde pode estar» (reproduzida no Ponto Final de 12 de Maio de 2000).

Essa não é, porém, a minha linguagem, nem a minha forma de dirimir diferenças. Por isso, apresentei a competente queixa-crime na justiça.

Um bom amigo lembrava-me, um dia destes, que é nas situações limite que se conhecem as pessoas. Ora aqui está uma dessas situações. Cada um dos vários envolvidos terá a sua responsabilidade a cumprir na realização da justiça. Aguardo serenamente os desenvolvimentos.

E não, ainda não foi desta que me calaram...

Nota: agradeço penhoradamente todas as mensagens de apoio que tenho recebido sobre este assunto, assim como esta referência publicada no conhecido Bairro do Oriente (relembrada aqui e aqui).
Julgo que, mais do que um acto isolado, está aqui, de certo modo, em causa a salvaguarda de todos aqueles que manifestam publicamente as suas opiniões "não alinhadas" na nossa comunicação social e na blogosfera. Infelizmente, parece haver tiques do passado que ainda não verteram completamente para o esgoto da história, ajudando a empestar o ar que nos rodeia, já de si a braços com outras fontes de poluição mais recentes...

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Dez anos iguais a 32 milhões?

Agnes Lam, do Observatório Cívico, e o contrato atribuído à empresa de Eva Lou, adjunta da campanha eleitoral de Chui Sai On para Chefe do Executivo (com legendas em inglês).

PS: já sabemos também o que pensam os responsáveis do Novo Macau Democrático e da Nova Esperança sobre isto. E a Voz Plural, far-se-á ouvir ou ficou sem pio?

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Novo ano, novo filme

Depois de umas retemperadoras férias em Portugal - em especial, na minha sempre bela Pérola do Atlântico -, eis que sou apanhado pela rodagem de um filme na minha primeira incursão pelo Largo do Senado. Segundo li já hoje no JTM, trata-se de uma produção de Hong Kong intitulada Vengeance, que conta com o conhecido actor e cantor francês Johnny Halliday. Inevitáveis incómodos à parte, apraz-me constatar esta escolha de Macau para cenário de um filme forasteiro (não vou dizer "estrangeiro", apesar de ser quase a mesma coisa, para não me acusarem de uso de linguagem secessionista por me referir assim à malta de Hong Kong - embora não seja eu que ando a barrar-lhes a entrada no território...). Que venham muitos!

Na próxima quinta-feira, dia 15, O Protesto regressa ao JTM, conforme previsto. A preguiça ainda é muita, confesso, e as leituras estão todas atrasadíssimas, mas pode ser que o fim-de-semana ajude a recompor as coisas e me devolva a inspiração para continuar a opinar abertamente sobre o que por aqui vai acontecendo. Perdão: opinar, não; ocupar espaço inútil no jornal, antecipar memórias ou outra laracha do género, não vão algumas pobres almas que por aí andam dar novamente largas ao exercício do disparate (sempre bem mais fácil do que participar construtivamente no debate frontal das questões, já se sabe).

A terminar, faço votos para que este novo filme anual que agora começa seja de muito sucesso para Macau em geral e para a nossa comunidade em particular, no respeito pela diferença e pelo esforço de quem procura partilhar parte do seu tempo com os outros - seja em trabalho associativo ou de voluntariado, seja construindo e mantendo o seu blogue ou colaborando com a comunicação social, seja de qualquer outra forma válida. O que interessa mesmo é participar positivamente!

PS: foram agora acrescentadas duas funcionalidades aO Protesto - uma secção de vídeos de Macau (na coluna azul da direita) e outra para os leitores que queiram seguir o blogue (no fundo do ecrã).

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Fazer opinião em Macau

Nuno Lima Bastos
11 de Dezembro de 2008

No início do ano, quando o director deste jornal amavelmente me convidou para aqui escrever uma coluna semanal, eu sabia ao que vinha. Afinal, já escrevera inúmeros textos na imprensa de Macau ao longo da última década e colaborara várias vezes com a Rádio Macau, quer em programas regulares, quer em situações pontuais. Ora, quando uma pessoa se expõe desta forma perante um auditório razoavelmente alargado, a máxima “cada cabeça, sua sentença” encontra terreno fértil para florescer.
Se nem sempre é fácil ser-se franco nas relações pessoais, na comunicação social, então, esse “atrevimento” pode ser muito penalizante para o seu autor. Num meio pequeno como o nosso, ainda pior. Não é por acaso que os jornalistas locais se queixam tanto das resistências que encontram quando tentam recolher depoimentos sobre os mais diversos assuntos. A verdade é que as pessoas não querem, não gostam ou receiam falar.
Daí resulta haver um pequeno grupo de cidadãos que são os “bombeiros de serviço”: não só escrevem, frequentemente, crónicas nos jornais, como são chamados a opinar sobre tudo ou quase tudo. Independentemente da legítima gratificação pessoal que possam sentir por serem considerados vozes válidas nesta sociedade em que vivem, intervêm, antes de mais, por acreditarem que qualquer comunidade deve ser capaz de problematizar e debater as questões, só assim conseguindo evoluir saudavelmente. Procuram, então, dar o bom exemplo, em vez de se remeterem a uma cómoda e segura atitude passiva.
Depois, vem a reacção do costume, claro: «lá estão eles a se pôr em “bicos-de-pés”», «são sempre os mesmos», «querem é aparecer», «mas quem são eles para falar disto ou daquilo?» e por aí adiante. É o reino da maledicência, desporto em que, se os portugueses em geral têm grande fama, os de Macau são verdadeiros campeões. Façam disto um desporto olímpico e não faltarão candidatos às 150 000 notas que Guo Jing Jing e os seus pares receberam no Verão passado.
Isto recorda-me, por exemplo, um 10 de Junho em que fui convidado por um jornal para escrever um pequeno comentário alusivo à data. Escolhi falar de uma das coisas de que mais nos queixamos ano após ano: dos representantes do Governo português que aqui aterram de pára-quedas, pespegando-nos com discursos inenarráveis e fazendo promessas nunca cumpridas. E apelei a que houvesse outro empenho de Lisboa nas celebrações desse ano. Outras pessoas que receberam o mesmo convite optaram por falar do hastear da bandeira, do entoar do hino nacional ou das belas vistas da varanda da residência oficial do cônsul. Resultado: às palavras dos outros, ninguém se referiu; eu, pelo contrário, que disse o que tantos de nós pensam, tive direito a um editorial a me desancar!
Peguemos num exemplo bem mais sério: o caso Ao Man Long. Durante anos, ouvimos dois ou três deputados a se queixarem energicamente do que se passava com as obras públicas do território: orçamentos em derrapagem, ajustes directos questionáveis, auditorias que não se realizavam, etc. Chamaram-lhes tudo e mais alguma coisa. Se alguém como eu tivesse ousado pegar na caneta e escrever um artigo de opinião em apoio a essas vozes isoladas, teria sido crucificado, imagino. No entanto, em surdina, o ex-governante era já comummente alcunhado de “o pataquinhas”, tão generalizada que era a sua imagem de corrupto. Quando foi condenado, muitos dos que sempre haviam censurado a postura incisiva desses parlamentares apressaram-se a afirmar, em tom de grande sapiência, que a justiça funcionara e estava, assim, provado que o sistema funcionava mesmo! Tudo muito simples.
Falando, ainda, em governantes, dizia-me um amigo, um dia destes, que os Secretários do Governo que mais críticas recebem na Assembleia Legislativa são sempre os da Segurança e da Administração e Justiça, porque são os únicos que não têm subsídios para distribuir. E é capaz de ter razão, a avaliar pelas intervenções de alguns deputados, que mudam de tom de voz do dia para a noite consoante o Secretário que lhes aparece à frente no hemiciclo durante os debates das Linhas de Acção Governativa. Esta é outra das máximas de Macau: nunca criticar abertamente quem nos pode dar subsídios, por muitas asneiras que faça ou muito incompetente que seja. De preferência, critiquem-se os que os criticam...
Em suma, e perante este cenário que dificilmente melhorará num espaço de tempo previsível, restam-me duas opções: ou deixar de fazer opinião ou passar a escrever sobre gastronomia, paisagens, música, filmes, videojogos, o Burkina Faso ou outros temas do género (isto é, muito válidos, mas inócuos). De outra forma, arrisco-me a ser, cada vez mais, um proscrito, um indivíduo na “lista negra”, uma pessoa junto de quem não convém falar de certos assuntos e outros “piropos” que tenho ouvido por estes dias. Não é que não soubesse já, mas sempre esperei mais discernimento por parte de algumas pessoas. Deve ser da humidade...
O Protesto vai, agora, fazer uma pausa natalícia, regressando, expectavelmente, em meados de Janeiro. Os votos de um Santo Natal para todos os leitores de boa vontade!

PS: meu caro Marques da Silva, lamento imenso ter-te «pretensamente» elogiado na minha última crónica. Nunca pensei que um tributo público e sincero ao que acreditava serem as qualidades pessoais e profissionais de alguém pudesse ser tão mal interpretado ou constituir um problema. De facto, o meu quadro de valores deve andar completamente às avessas. Ou, então, sou muito ingénuo.

Nota: quero expressar o meu agradecimento ao Bairro do Oriente não só pela inclusão desta crónica nas suas «Leituras» da semana, mas especialmente pelas suas palavras de apoio na posta «A opinião e as elites». Espero regressar a este assunto nos próximos dias.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Os cobardes

Nuno Lima Bastos
Jornal Tribuna de Macau
24 de Abril de 2008

«Veneno: a arma dos cobardes»
(John Fletcher, 1579-1625)

Há muito que planeara escrever hoje sobre as eleições para o Conselho das Comunidades Portuguesas. Não obstante o manifesto desinteresse da maioria da nossa comunidade “expatriada” em relação ao sufrágio de domingo passado – ou talvez por isso mesmo –, julgo que este órgão é merecedor de atenção e reflexão. Ficará para uma próxima oportunidade.
Sucedeu, entretanto, que voz amiga me deu a conhecer que alguém terá enviado uma carta anónima ao governo de Macau, esbaforindo contra a minha crónica de há duas semanas, «as forças externas» (ainda disponível no sítio do JTM e no meu recém-criado blogue, em oprotesto-macau.blogspot.com). Desconheço, por ora, os termos da missiva e a reacção exacta de quem a recebeu, embora exista uma disposição legal a determinar que «as sugestões, queixas e reclamações anónimas podem ser destruídas» (n.º 2 do artigo 21.º do Decreto-Lei n.º 5/98/M, de 2 de Fevereiro).
Espero, contudo, que o queixoso continue a ler as minhas crónicas semanais, até porque esta lhe é particularmente dedicada. Depois, poderá também destilar o seu veneno anónimo no meu blogue, uma vez que (ainda) não é requerida qualquer identificação para ali se expressar.
Este consternado leitor poderia, como qualquer outro, ter dirigido a sua indignação a este jornal, que estou certo da publicação das suas palavras, como tantas vezes já aconteceu. Não desejando expor-se publicamente, poderia, em alternativa, ter solicitado ao JTM o meu contacto e me abordar directamente. Mas não! Como um verdadeiro cobarde, preferiu dirigir-se de forma oculta ao executivo local, certamente na expectativa de que alguma represália fosse exercida sobre mim por via do meu vínculo jurídico-laboral com a administração do território, mesmo não havendo qualquer mistura entre o que escrevo na comunicação social e a minha actividade profissional e os deveres funcionais dela decorrentes.
Caricato em tudo isto é que, enquanto eu manifesto abertamente a minha postura crítica face ao poder central em matérias tão sensíveis como o Tibete, os direitos humanos no continente ou a democratização do sistema político de Macau, o biltre recorre ao anonimato até para assumir posições alinhadas com o poder! Haverá maior cobardia?
Já mais do que uma vez ouvi aqui, até de outros portugueses, comentários do género: «és um convidado nesta terra e os convidados não devem dizer mal de quem os recebe». Gostaria de esclarecer, de uma vez por todas, que não me considero, nem aceito ser considerado, um “convidado” em Macau. Sou um cidadão, um residente permanente e um eleitor deste território. Posso votar e ser eleito para o parlamento local. Com excepção do acesso a meia-dúzia de cargos, tenho os precisos direitos de qualquer cidadão chinês de Macau e julgava ter sido esse um dos grandes objectivos da diplomacia do meu país nas negociações da transferência de soberania com a China, assim como acreditava ser essa uma decorrência da Declaração Conjunta Luso-Chinesa Sobre a Questão de Macau e da Lei Básica. Além do mais, esta terra não é propriedade dos seus dirigentes, mas de todo o seu povo. Será isto tão difícil de perceber?
Aos patriotas exacerbados e aos oportunisticamente patriotas gostaria, também, de clarificar que não sou anti-China ou anti-chinês. Nem eu nem, estou em crer, a maioria daqueles cidadãos do mundo que têm protestado à passagem da tocha olímpica pelas suas cidades. Somos é pelo respeito incondicional desse conjunto de valores supra-nacionais a que se convencionou chamar direitos humanos. Para nós, a nação chinesa não se resume ao regime totalitário a que continua agrilhoada ou à sua nomenklatura. Por isso é que, nos quatro cantos do mundo, estivemos ao lado dos estudantes de Tiananmen em 1989 e chorámos de raiva e impotência quando os tanques avançaram sobre eles. E por isso é que rejubilamos sempre que testemunhamos eleições livres em Taiwan, porque nos fazem acreditar que o povo chinês consegue viver em liberdade e democracia, ao contrário do que alguns teimosamente asseveram.
O seguidismo cego, a cultura do “trabalha e cala”, a sabujice do poder, tão típicos entre nós, são um cancro social, o cancro que potencia o aparecimento dos Ao Man Long deste pequeno burgo e tantos actos polémicos e suspeitos de gestão da coisa pública que têm vindo a terreiro nos últimos tempos.
Não fora a determinação de um pequeno grupo de cidadãos desinteressados e alguma vez o executivo teria fixado os recentes limites à construção em altura para proteger o Farol da Guia (ainda que a medida peque por tardia e insuficiente)? Claro que não! Ou já nos esquecemos daquela famosa frase de que o progresso de Macau não podia ser travado por “romantismos”? Como este, há tantos outros exemplos. Tantos que não percebo porque é que temos que andar sempre a avivar a memória das pessoas, especialmente a dos nossos queridos líderes e seus patrióticos servidores.
Acreditem ou não, nem todos nos orientamos com intuitos mercenários ou de projecção pública, da mesma maneira que nem todos pensamos que a economia justifica tudo ou é incompatível com a democracia e a liberdade, que o nosso emprego é mais importante do que os nossos princípios ou que os nossos dirigentes são incontestáveis e infalíveis. Infalível, só Deus. Cá em baixo, alguns de nós ainda vivemos na doce convicção de que podemos e devemos contribuir para um mundo melhor. Quanto aos cobardes, deles não reza a história.