O jornal Público compilou um pequeno conjunto de perguntas e respostas que ajudam a entender rapidamente o que se está a passar no Cáucaso. Com a devida vénia, aqui ficam elas:
O que é a Ossétia do Sul?
É uma montanha de 3900 quilómetros quadrados, povoada por 70 mil habitantes, muito pobres. É um dos confetti do Cáucaso, que se distinguem pelas suas paixões nacionalistas. Descendentes dos alanos, os ossetas foram expulsos dos seus territórios do Sul do Don pelas hordas mongóis na Idade Média e refugiaram-se nos contrafortes do Cáucaso [...]. Cristianizados no contacto com os georgianos e o Império Bizantino, os ossetas mantiveram uma cultura de ambições políticas próprias que já se tinha manifestado em 1917, durante a revolução russa. Nessa época, os ossetas tomaram parte na revolução bolchevique, enquanto a Geórgia aproveitou o tumulto russo para retomar a sua independência. A URSS dividiu depois os ossetas em duas entidades, uma junto ao Cáucaso do Norte, e a Ossétia do Sul fronteira à Geórgia.Em 1990, os ossetas do Sul aproveitaram a fragmentação da União Soviética para proclamar a sua independência. Com a ajuda militar da Rússia, conseguiram repelir as tropas georgianas e impor em 1992 um cessar-fogo frágil, que lhes permitiu criar uma espécie de Estado independente que não é reconhecido por ninguém.
Porquê esta ofensiva?
O jovem e agitado Presidente georgiano, Mikhail Saakachvili, tinha necessidade de acção para salvar o seu regime. O herói da "Revolução das Rosas", saudado em 2003 como uma nova esperança democrática para todo o Cáucaso, estava a caminho de se tornar um autocrata, dispersando as manifestações da oposição ou amordaçando os media críticos. Eleito com 95 por cento dos votos em 2004, não foi reeleito, em Janeiro de 2008, senão com 53 por cento, e devido a fortes pressões e manobras eleitorais. Desde 2003, prometia também o regresso de duas províncias perdidas, a Ossétia do Sul e a Abkázia. Chegara a altura de passar à acção. Lançando a ofensiva, Mikhail Saakachvili pode contar certamente com o nacionalismo georgiano. [...] Na véspera da mudança de Administração nos Estados unidos, Saakachvili quis também tirar o máximo proveito dos seus bons contactos com a equipa de Bush, para estar seguro do apoio norte-americano face à Rússia.
O que quer Moscovo?
Moscovo ligou-se aos ossetas nos últimos anos distribuindo-lhes, como aos abkazes, passaportes russos. Os habitantes de Tskhinvali bombardeados por Tbilissi são assim hoje cidadãos russos que Moscovo tem de defender. [...] "Moscovo comprometeu-se moralmente a defender os ossetas, sem ter por detrás uma estratégia para resolver o conflito", afirma Dmitri Trenine, do Centro Carnegie de Moscovo. "Agora tem cidadãos seus no meio do conflito", acrescenta. [...] A Ossétia do Sul, como a Abkázia, são tanto mais caras ao coração de Moscovo quanto são hoje os últimos territórios do Cáucaso onde os russos se sentem bem-vindos. [...] A Ossétia do Sul não tem nada de "estratégico", mas para Moscovo é como uma questão de amor-próprio: corrida do Cáucaso, onde perdeu posições-chave em 1991, sobretudo no Azerbaijão e na Geórgia, a Rússia pretende manter o pé na região.
A Abkázia, a próxima etapa?
[...] A Abkázia, com 250 mil habitantes, é uma pequena região secessionista da Geórgia, de destino muito semelhante ao da Ossétia, salvo que é ainda mais cobiçada. [...] Minoritários na sua região, os abkazes confrontaram-se duramente com os georgianos no princípio dos anos 1990. [...] O Presidente georgiano, Mikhail Saakachvili, prometeu reconquistar este território independente de facto desde 1992. "Existe um verdadeiro perigo de os separatistas abkazes se entregarem a provocações para abrir uma segunda frente", disse, em Tbilissi, o director do centro de Segurança Regional, Alexandre Roussetski. "Mas a Geórgia está pronta e perfeitamente capaz de levar uma guerra nas duas frentes", garantiu.
O que está em jogo no Cáucaso?
As imensas reservas gasíferas e petrolíferas do mar Cáspio aumentaram ainda mais a importância estratégica do Cáucaso no quadro do jogo de influências entre a Rússia e os Estados Unidos. Na Transcaucásia, antigas repúblicas soviéticas como o Azerbaijão, nova potência emergente graças às suas riquezas em hidrocarbonetos, e a Geórgia, aproximaram-se dos países ocidentais. [...] O Azerbaijão, muçulmano e turcófono, tem estreitas relações com a Turquia, pilar do flanco sudeste da Aliança Atlântica. Os russos denunciam o que chamam um "cerco". [...] Moscovo contra-ataca movendo as suas cartas na Transcaucásia, às custas da Geórgia e do Azerbaijão, apoiando a fundo a Arménia no conflito de Nagorno-Karabak, congelado desde 1994. Este enclave arménio no seio do Azerbaijão libertou-se por via das armas em 1992, ocupando para chegar até à mãe- pátria 20 por cento do território azerbaijanês. Isso complicou ainda mais as relações já complexas entre Erevan e Ancara, mesmo tendo em conta o processo de normalização que conheceram nos últimos meses.
Lorraine Millot e Marc Semo, exclusivo PÚBLICO/Libération
1 comentário:
O mundo esta infestado de hipocritas... Na alta politica os erros tem um custo muitissimo elevado. é este o ocidente que se diz modelo da democracia. Um aventureiro, este vosso "...jovem e agitado presidente georgiano..." deveria é ser afastado da politica em de ser apoiado pelos EUA fazendo o mundo retornar a guerra fria sob indecisao da Europa. A europa prefere ter como vizinho um agitado e inexperiente à beira de provocar uma guerra mundial?
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