5 de Fevereiro de 2009
1. Na minha anterior crónica, tive oportunidade de manifestar alguma estranheza pela generalização das reduções de horários de trabalho e, correspondentemente, de vencimentos que tem vindo a assolar a indústria do jogo de Macau nas últimas semanas. Recorrendo aos valores provisórios das receitas do sector em 2008, interroguei-me se não haveria alguma precipitação (melhor dizendo, aproveitamento) na forma como os efeitos da crise estavam a ser transferidos para o elo mais fraco da cadeia produtiva.
Como também disse e repito, sou um leigo nestas matérias. Certo é que a Wynn Macau acaba de anunciar que não vai proceder nem a despedimentos nem a cortes salariais entre a sua força laboral do território, apesar de o estar a fazer nos seus casinos de Las Vegas, onde pretende poupar até cem milhões de dólares em custos operacionais para não ter que dispensar ninguém. Steve Wynn parece, pois, ter decidido não repercutir nos seus subordinados locais os problemas originados nos investimentos que mantém em outras latitudes – ao contrário do que sugerem as decisões dos seus concorrentes...
Entretanto, o complexo City of Dreams, da Melco Crown, vai lançar uma campanha de recrutamento de sete mil trabalhadores no próximo fim-de-semana. Ora, se me não falha a memória, o Hotel Crown foi, nem mais nem menos, o pioneiro dos recentes emagrecimentos de jornas entre nós. Estou, por isso, bastante curioso para ver se a Crown tenciona dar preferência aos seus colaboradores que queiram mudar-se para o novo empreendimento à procura de recuperar um posto em full time.
O mesmo se diga da mão-de-obra dos outros operadores de jogo que foi afectada pelas reduções salariais: vai ou não aproveitar a oportunidade e comparecer na acção de recrutamento (tanto mais que, pela sua experiência profissional, deve ser o alvo natural desta iniciativa)? E se o fizer? Se algum casino perder largas centenas de funcionários, irá repor os vencimentos dos demais que se lhe mantiverem fiéis? Em bom rigor, deveria fazê-lo. Caso contrário, haverá motivos para se começar a questionar a boa fé de alguns dos argumentos que o sector tem vindo a aduzir junto da Direcção dos Serviços de Assuntos Laborais...
2. Acaba de ser divulgado que a balança comercial de Macau encerrou 2008 com um saldo negativo de 27 mil milhões de patacas, tendo as exportações caído para 16 mil milhões de patacas, menos 21,6% do que no ano anterior e o valor mais baixo desde 1996.
Estes números fazem-me recordar as recentes palavras de Xi Jinping, Vice-Presidente da China, quando defendeu entre nós a necessidade de diversificação da economia local, propondo o reforço da cooperação inter-regional como uma das soluções possíveis para Macau atingir esse desiderato. Concretizando, parece que a nova panaceia é a Ilha da Montanha. Tanto que até a Universidade de Macau já fala em expandir o seu campus para lá...
Ora, ainda me lembro dos tempos em que o ex-Secretário Vítor Pessoa “ligava o gravador” e repetia até à exaustão a “cassete” da plataforma giratória, debalde. Assim como me recordo de Stanley Ho revelar, em entrevista à CNN, que cada novo governador que aqui aportava o chamava e lhe pedia que diversificasse os seus investimentos no território, de modo a diminuir a dependência do jogo – contrapondo, de seguida, que Macau era demasiado pequeno para viabilizar investimentos de relevo em outras actividades produtivas.
Não sei se o emblemático tycoon tinha razão, mas a verdade é que veio o retorno à pátria, vieram com este a abertura do jogo, a fartura dos vistos individuais, a especulação imobiliária importada (em boa parte) do continente, a zona industrial transfronteiriça Macau-Zuhai, a cooperação com os países de língua portuguesa e os excedentes orçamentais recorde, está a chegar o décimo aniversário da RAEM e continua tudo na mesma...
Será desta?
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