Nuno Lima Bastos
Jornal Tribuna de Macau
9 de Outubro de 2008
Foi sem surpresa alguma que li no Ponto Final de segunda-feira passada que Carlos Páscoa Gonçalves, deputado do PSD eleito pelo círculo de Fora da Europa, ainda não tinha concretizado a única promessa feita aquando da sua última visita a Macau, em Abril último: dirigir ao Ministério da Educação um requerimento sobre a formação dos professores da Escola Portuguesa, «assim que chegar a Lisboa» (segundo citação da imprensa local reproduzida pelo autor daquela peça, João Paulo Meneses).
Devo reconhecer que me é ingrato pegar neste tema, não só pela minha assumida militância laranja, mas também pelo agradável tratamento pessoal que o nosso dignitário parlamentar sempre me dispensou. Simpatias à parte, há, contudo, que assumir a realidade e exigir que os nossos eleitos cumpram as suas promessas e, afinal, justifiquem os cargos que desempenham, pagos pelo erário público.
Ora, por diferentes vias, costumo receber, há já vários anos, cópias das interpelações escritas que os deputados do meu partido apresentam ao governo português sobre as mais diversas questões relacionadas com a nossa diáspora, o mesmo sucedendo com as intervenções orais que fazem na Assembleia da República neste âmbito. Recebo, inclusivamente, recortes da imprensa nacional sobre tais assuntos. Gestos que considero reveladores da atenção dos serviços administrativos do grupo parlamentar e do partido para com os militantes no exterior cujo endereço electrónico possuem.
Já quando se trata de medir a eficiência dos nossos mandatários em São Bento no que toca a Macau, a escala cai a pique, numa espécie de “crise do subprime parlamentar”, mas de longa duração: João Paulo Meneses afirma que o último requerimento relativo ao território que deu entrada na Assembleia da República data de Janeiro de 2006, abordando a mudança das instalações da Escola Portuguesa. Pois eu vou mais longe: que me lembre, não houve qualquer outro documento sobre Macau produzido pelos nossos deputados – todos eles, estou em crer, desde o PCP ao CDS/PP – desde que Manuela Aguiar abandonou (melhor, foi forçada a abandonar) o hemiciclo após as eleições legislativas de Fevereiro de 2005.
Este desinteresse é, obviamente, tanto mais grave no caso do PSD, atendendo a que são deste quadrante os dois deputados eleitos pelo círculo que engloba Macau. José Cesário já cá esteve meia dúzia de vezes nessa qualidade; Carlos Páscoa Gonçalves outras duas. Circularam, foram às associações de matriz portuguesa e às nossas instituições oficiais (consulado, IPOR, Escola Portuguesa), e até se reuniram com representantes do governo local. Receberam os representantes do movimento pela reabertura do processo de ingresso (que se extinguiu?). Proferiram inúmeras declarações junto da comunicação social de língua portuguesa, ora manifestando preocupação com determinados problemas que se vêm arrastando, ora atacando o governo socialista por não os resolver, ora assumindo o compromisso de fazer pressão política em Lisboa para que a tutela se mexa. Afinal, a montanha tem parido ratos atrás de ratos...
Bem dizia Marcelo Rebelo de Sousa nas suas Escolhas, em Junho do ano passado, que Macau deixou de interessar aos partidos portugueses a partir do momento em que a árvore das patacas secou. Até então, terão saído do território financiamentos para partidos, candidaturas, fundações e sabe-se lá mais o quê. João Paulo Meneses escreveu mesmo um livro de ficção sobre o assunto, intitulado, precisamente, «A Árvore das Patacas», que o próprio assumiu ser «uma espécie de “vingança” (...) de quem não conseguiu aprofundar um conjunto de factos para tratamento jornalístico e, a partir de certa altura, desistiu».
Quem não desiste de pensar que esta indiferença dos nossos representantes não pode permanecer impune ad aternum sou eu. À falta de instituições partidárias activas no território que fiscalizem o governo e a oposição em Portugal nas questões de Macau, ao menos que as nossas associações e a nossa imprensa façam o seu papel! Em linguagem simples: deixem-se de meras cortesias, declarações de circunstância e perguntas inócuas, e peçam contas cara-a-cara, que eles não mordem! O pior que pode acontecer é nunca mais cá voltarem. Mas entre isso e virem fazer turismo, o diabo que escolha...
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