Nuno Lima Bastos
Jornal Tribuna de Macau
12 de Junho de 2008
Se bem estais recordados, iniciei a minha crónica de há uma semana num tom marcadamente pessimista em relação às comemorações do Dia de Portugal que se avizinhavam. Fosse tão fácil acertar no mark six e há muito que estaria milionário. Quem se deslocou anteontem ao antigo Hotel Belavista, viu o telejornal desse dia ou, simplesmente, ouviu a rádio ou leu os jornais da manhã seguinte já sabe o que aconteceu: o representante do Governo português, o meu contemporâneo de lides académicas Filipe Baptista, improvisou um longo discurso que – no discreto desabafo de uma importante figura ali presente – bem podia ter sido decalcado de outro proferido dias antes numa qualquer terreola do nosso país. Um jornal local referiu-se-lhe com o bem conseguido título de «muito Portugal, pouco Macau», mas eu até teria ido mais longe e escrito «só Portugal, zero Macau» ou coisa parecida.
Não está aqui em causa a capacidade ou a competência do Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro. Pelo contrário, tenho dele a imagem de uma pessoa culta e capaz, ou não tivesse sido o eleito de José Sócrates para assegurar a articulação do seu gabinete com os diversos ministérios.
O problema é que, como de costume, o Executivo de Lisboa nada preparou para o 10 de Junho. Confesso que me ocorrera vagamente que, desta feita, talvez houvesse um pouco mais de empenho, influenciado por uma notícia do Público de há oito dias, que avançava estarmos perante «o maior investimento de sempre de um Governo nas comemorações do 10 de Junho no estrangeiro. Ao todo, cinco ministros e 14 secretários de Estado irão assinalar o Dia de Portugal junto de portugueses residentes no estrangeiro, em comemorações que decorrerão entre os dias 8 e 15 de Junho». A mesma peça citava, também, críticas antecipadas de alguns membros do Conselho das Comunidades Portuguesas, do estilo «se for só para passear, não vale a pena, as pessoas que venham para ouvir, para tomar medidas» – ao que eu acrescentaria: se for para vir a Macau falar do combate ao défice público e do Simplex ao lado de Edmund Ho e perante quem cá vive, também não...
A pergunta sacramental é, pois: sendo o Secretário de Estado uma pessoa competente e esclarecida, então, o que lhe passou pela cabeça para vir aqui fazer um discurso daqueles? Julgo que só há uma resposta possível: nada! E teve esse vazio pela simples razão de que absolutamente nada fora preparado para esta deslocação. Daí “jogar pelo seguro” e desatar a falar apenas daquilo que sabia: as propostas do seu Governo para os problemas internos de Portugal. Entre isso e cair no embaraço de dizer alguma asneira sobre Macau, nem deve ter pensado duas vezes... Aliás, o próprio Filipe Baptista reconheceu que fora uma escolha de última hora, embora tendo-a aceitado «com todo o gosto, mas com alguns condicionalismos de agenda».
Mas se há 10 de Junho todos os anos, se é tradição a data ser celebrada em todas as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo – ou não fosse também o seu dia –, se somos já cinco milhões de almas a residir fora da pátria e se enviamos mais de dois mil milhões de euros anuais (!) para Portugal, como é possível os nossos sucessivos Governos ainda não terem começado a programar devidamente as suas actividades para a ocasião? Como é possível chegarem sempre às vésperas do acontecimento sem saber quem vai aonde e sem ter o trabalho de casa preparado e distribuído?
No Palácio das Necessidades, fala-se muito, de há uns anos a esta parte, em diplomacia económica. Pois onde está ela? Eis um bom exemplo: no início de 2007, o Governo anunciou que tencionava encerrar dezassete consulados em todo o mundo, com vista a poupar 3,6 milhões de euros anuais. Ora, isso equivale a metade das remessas diárias – diárias, note-se bem! – dos emigrantes portugueses para o seu país natal. A nossa diplomacia económica parece, assim, resumir-se a poupar no apoio público aos portugueses que estão fora, continuando a receber muito, cada vez mais, do bolso destes. Visto deste prisma, o que se passa com o IPOR ou a Escola Portuguesa de Macau acaba por não ter nada de anormal...
Não sei é se hão-de alguma vez alcançar, em Lisboa, que não está apenas em causa o apoio devido aos seus cidadãos do mundo: as representações diplomáticas e consulares, as delegações económicas, os organismos de ensino da língua portuguesa, etc., são, também, a imagem avançada do país, transmitindo a quem nos procura a primeira impressão do que é Portugal. E que imagem é esta que estamos a difundir por todo o globo? A fazer fé no que tenho visto e ouvido por aqui nestes dias, não é nada, nada, abonatória...
E agora tenho que concluir, pois está prestes a entrar novamente em acção um dos produtos portugueses com melhor acolhimento no exterior: a nossa selecção nacional de futebol! Checos, aqui vamos nós!
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1 comentário:
Da cabeça de um político português que vem a Macau e do rabinho de um bébé nunca se sabe o que pode sair.
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