Com a devida vénia ao Última Hora do jornal Público, reproduzo aqui a seguinte notícia (é o Sudão, é o Zimbabwe - e depois ficam muito incomodados em Pequim com as críticas internacionais...):
Armamento estava a bordo de um navio
China confirma ter vendido armas ao Zimbabwe e defende legalidade do negócio
21.04.2008 - 13h32 Lusa
A China admitiu hoje ter vendido ao governo do Zimbabwe as armas a bordo do navio chinês em rota para Angola, com Pequim a defender a legalidade do negócio depois de Moçambique ter recusado à embarcação licença para aportar.
"A venda de armas chinesas ao Zimbabwe é legal. A imprensa ocidental está simplesmente a usar o assunto para pressionar a China", diz hoje a agência noticiosa estatal chinesa Nova China, que cita declarações de Guo Xiaobin, investigador do Instituto de Relações Internacionais Contemporâneas da China, uma instituição estatal.
A Nova China não comenta, porém, o facto de o navio An Yue Jiang, que carrega o armamento, ter abandonado águas sul-africanas na sexta-feira, depois de um tribunal sul-africano ter recusado que as armas fossem transportadas através do país para o Zimbabwe.
O An Yue Jiang navega agora em direcção a Angola, onde espera aportar em Luanda, segundo disse Paulo Zucula, ministro dos Transportes e Comunicações de Moçambique, país que recusou a entrada da embarcação que transporta seis contentores de armamento chinês.
"Sabemos que o registo do seu próximo destino explicita Luanda porque não permitimos que penetrasse em águas moçambicanas sem diligências prévias", disse Zucula.
Contactado pela a Lusa, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês recusou-se hoje a fazer qualquer comentário, quer sobre a venda de armas ao Zimbabwe, quer sobre o itinerário do An Yue Jiang."Essas perguntas deverão ser feitas amanhã durante a conferência de imprensa de rotina do nosso Ministério", disse um funcionário do gabinete do porta-voz da diplomacia chinesa, que não se identificou.
Entre as armas transportadas encontram-se três milhões de munições para as espingardas automáticas AK-47, 1500 RPG (morteiros com auto-propulsão) e mais de três mil granadas de morteiro.
O supremo tribunal de Durban, na África do Sul, recusou permissão para o transporte do armamento para o Zimbabwe, que não tem acesso ao mar, por recear que a carga do An Yue Jiang possa alimentar a crise no Zimbabwe.
Em Fevereiro, um relatório da Comissão dos Negócios Estrangeiros do Parlamento Europeu apelou à União Europeia para que pressione a China a deixar de vender armas aos países africanos e ao Zimbabwe em particular.
O Zimbabwe vive actualmente um clima de tensão, uma vez que a comissão eleitoral do país ainda não divulgou os resultados das eleições presidenciais de 29 de Março.
A oposição no Zimbabwe afirma que pelo menos dez pessoas foram mortas desde 29 de Março, e desde então cerca de 400 militantes da oposição foram detidos, três mil pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas e mais de 500 hospitalizadas.
Actualização em 24 de Abril: depois de muita pressão internacional, o navio acabou por regressar à China com as armas. Mais detalhes aqui.
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
O mais surpreendente é as autoridades de Pequim afirmarem que esta entrega de armamento nada tem que ver com a actual situação do Zimbabué, quando deveriam ter um pouco mais de consciência e saber agir melhor no tabuleiro da política internacional. O contrato - que o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Juang Yu, afirma ter sido assinado no ano passado - até poderia ter sido assinado há dez anos. Contudo, actualmente, era necessário algum bom senso do lado de Pequim, para que percebesse que esta não seria a melhor altura para fornecer novas armas a Mugabe. Não quando um país, que por natureza já é instável (pelo menos nos últimos anos), vive um clima de tensão sem qualquer solução pacífica à vista. Depois do Darfur, o Zimbabué demonstra mais uma vez o mau desempenho da China no respeito pelos Direitos Humanos, com a recorrente desculpa de não querer interferir nos assuntos internos de outros Estados. De uma vez por todas, se não o quer fazer, ao menos que se abstenha de contribuir para a instabilidade interna desses mesmos países.
Inteiramente de acordo, Tiago!
Vamos ver a reacção de Pequim à proposta de Gordon Brown para um embargo total de armas ao regime de Robert Mugabe (http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1326736&idCanal=11).
E obrigado pelo teu contributo!
Enviar um comentário