quinta-feira, 17 de abril de 2008

O novo PSD-Macau

Nuno Lima Bastos
Jornal Tribuna de Macau
17 de Abril de 2008

O segundo deputado social-democrata do círculo de Fora da Europa, o sempre agradável Carlos Páscoa Gonçalves, acaba de visitar Macau. Cruzámo-nos casualmente no início da semana, no Clube Militar, e trocámos um abraço amigo e algumas palavras de circunstância, que a oportunidade não dava para mais. Foi, de facto, um encontro puramente casual, uma vez que, enquanto militante do PSD-Macau, não recebi qualquer informação sobre esta vinda (nem eu, nem nenhum dos outros “laranjas” locais com quem falei), à semelhança, aliás, do que aconteceu com as últimas deslocações ao território do outro deputado da emigração, José Cesário. Nada que me surpreendesse, portanto.
O mesmo já não poderei dizer de dois “detalhes” que surgiram nas peças que a imprensa local foi produzindo sobre a presença do parlamentar entre nós: primeiro, o presidente do PSD-Macau, Pedro Bailote, a afirmar ao Jornal Tribuna de Macau de domingo passado que «a vinda de Carlos Páscoa Gonçalves é (...) a prova de que os objectivos da secção se estão a cumprir»; depois, o Ponto Final de segunda-feira a mencionar a realização de «um jantar [do deputado] com o núcleo do PSD local» (e perguntando-lhe, com propriedade, por que não agendava, ao invés, um jantar aberto com a comunidade portuguesa). Aqui, confesso que fiquei já surpreendido. Tanto que resolvi indagar junto de outros militantes e, até, de um dos elementos da comissão política se as coisas estavam mesmo a acontecer e eu é que andava “distraído” ou se, realmente, se confirmava a minha impressão de que o PSD-Macau deixara definitivamente de funcionar enquanto estrutura orgânica.
Pelos vistos, ninguém sabe se houve repasto ou qualquer outro contacto alargado de militantes com o deputado. Sabem, sim, que ninguém os informou ou convidou para nada, incluindo o próprio dirigente com quem falei! Mais: este responsável reclama que, desde que foi eleita em 28 de Julho último – já lá vão oito meses e meio –, a presente comissão política local não reuniu uma única vez! Não compreendo, então, a que objectivos se referia o seu presidente. Talvez aparecer na televisão ao lado dos deputados ou ser-lhes servil, na expectativa de futuras recompensas pessoais. E apenas.
Mas o marasmo não se fica por aqui. Os estatutos do partido determinam que as assembleias de secção reúnem ordinariamente de três em três meses. Ora, não houve uma única assembleia geral nestes quase nove meses que decorreram desde o sufrágio.
Devo dizer, em abono da verdade, que essa periodicidade deixou de ser cumprida há vários anos, mas pela simples razão de que, com o enorme êxodo de portugueses verificado por alturas da transferência de soberania, o PSD-Macau ficou rapidamente reduzido a cerca de duas dezenas de militantes; na sua maioria, pouco disponíveis para continuar a participar em actividades partidárias. Contudo, hoje o contexto é bem diferente: em vésperas da ida às urnas, o candidato único ufanou-se de ter conseguido angariar cerca de oitenta novos militantes entre o início de 2006 e Julho de 2007. É verdade que entraram de forma irregular, pois que, por grosseira negligência de quem, nos serviços centrais do partido, tratou do processo, a então comissão política do núcleo não foi chamada a dar o seu parecer vinculativo sobre as admissões e não foi cobrada a devida jóia, mas o certo é que, até ver, continuam inscritos e, deste modo, o PSD-Macau é suposto ter cerca de cem militantes neste momento, número mais do que suficiente para que as assembleias gerais possam ser convocadas com alguma garantia de não ficarem “desertas”.
Falando em irregularidades, continua por decidir o pedido de impugnação das eleições que submeti ao Conselho de Jurisdição Nacional do PSD. Os estatutos do partido também são claros a este respeito: «as decisões do Conselho são sempre tomadas no prazo máximo de noventa dias, salvo justificado motivo para a sua prorrogação, não devendo, em caso algum, o processo exceder o prazo de cento e oitenta dias até à decisão final». Decorridos 260 dias, não há nem decisão, nem justificação para a sua ausência... O PSD é lesto a apontar o dedo ao governo pelas falhas do nosso sistema judicial, mas não consegue dar o bom exemplo para dentro...
E assim vai o novo PSD-Macau, em normal funcionamento e relançado, como reclamou José Cesário quando decidiu avocar poderes e chamar os militantes locais às urnas em Julho de 2007.

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