sábado, 14 de junho de 2008

Ainda as reacções ao 10 de Junho

O discurso do Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro, Filipe Baptista, na recepção do Dia de Portugal sofreu duras críticas de todos os quadrantes. Julgo que nunca tinha assistido a tamanha unanimidade de opiniões negativas entre a comunidade portuguesa de Macau em relação à intervenção de um representante do Governo nacional nesta efeméride.

A minha posição foi manifestada na minha habitual crónica das quintas-feiras no Jornal Tribuna de Macau, como se pode ler na anterior posta deste blogue, e em declarações a este diário e ao Ponto Final de 11 de Junho.

Não menos críticos foram o director-adjunto do Jornal Tribuna de Macau, Sérgio Terra, no seu texto «Às vezes, mais vale nunca do que tarde», também de 11 de Junho, o chefe de redacção da revista Macau Closer, Nuno Mendonça, no excelente artigo de opinião «Um OVNI em Macau», publicado no Ponto Final de ontem (mas indisponível na edição online), e o director do Hoje Macau, Carlos Morais José, na sua prosa «A Fava», igualmente de ontem.

Pelo mesmo diapasão alinharam Amélia António, presidente da Casa de Portugal, José Pereira Coutinho, deputado e membro do Conselho das Comunidades Portuguesas, Fernando Gomes, seu colega neste órgão, e José Oliveira Paulo, presidente da Associação de Pais da Escola Portuguesa (Jornal Tribuna de Macau, Ponto Final e Hoje Macau de 11 de Junho).

A tudo isto reagiu o enviado de José Sócrates com a nada diplomática frase «há um conjunto de pessoas [na RAEM] que têm uma má disposição crónica», segundo relata o Jornal Tribuna de Macau de ontem. Pronto, está visto que andamos todos mal-dispostos por estes lados...

Actualizações em 16 e 18 de Junho:
acabo de reparar que Sérgio Terra respondeu (e bem) a Filipe Baptista no mesmo dia em que escrevi esta posta, em «Contra a azia e má disposição». Os nossos bem conhecidos Severo Portela, director do já desaparecido Futuro de Macau, e António Aguiar, dirigente desportivo, também se referiram ao malfadado discurso proferido no antigo Belavista, nos artigos de opinião «Dia de Camões, da Catarse e das Comunidades Portuguesas» (Hoje Macau de 13 de Junho) e «Nacionalista eu?» (Jornal Tribuna de Macau da mesma data), respectivamente. E, porque as reacções parecem não acabar, o meu amigo Correia Marques também acaba de dar a sua "paliçada" no assunto, através do escrito «Tô vivendo» (Hoje Macau de 18 de Junho. Na versão online, a autoria aparece, por lapso, como sendo de Zélia Ribeiro). Filipe Baptista é que, uma vez mais, discorda de todas estas críticas, em depoimento recolhido por João Paulo Meneses (Ponto Final de 18 de Junho).

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro Dr. Lima Bastos,
Na última entrevista dada ao "Tribuna de Macau", o Dr. Baptista diz:
"Falei ... pessoas que já conhecia dos tempos da faculdade ... e recebi indicações diferentes dessas».
Julgo ter lido algures que foi seu colega de curso.
Deduzo que estão cá muitos do seu curso ou o Dr, Lima Bastos tem dois discusos diferentes ou o Dr. Baptista está a mentir, quer esclarecer?
Cumprimentos

Nuno Lima Bastos disse...

Caro anónimo,

Primeiro que tudo, permita-me que lhe diga que uma pergunta desse teor devia ter autoria identificada. Como compreenderá, não me parece adequado prestar esclarecimentos a um interlocutor anónimo sobre as minhas conversas privadas.

Em todo o caso, e para que não haja mal-entendidos, esclareço o seguinte:

1) Fui contemporâneo do Dr. Filipe Baptista na Faculdade de Direito de Lisboa, como mencionei no JTM do passado dia 12, embora não colega do mesmo ano, uma vez que ele é um pouco mais velho do que eu;

2) Na última recepção do 10 de Junho, estavam, de facto, presentes outros colegas do nosso tempo que aqui vivem e com quem o Dr. Filipe Baptista também dialogou. O que falaram entre eles terá que lhes perguntar. Comigo, os temas de conversa foram outros, típicos de um encontro entre pessoas que já não se viam há muitos anos, além de que sujeitos a constantes interrupções, fruto das naturais solicitações de outras pessoas ao Dr. Filipe Baptista;

3)Como escrevi na edição do JTM atrás indicada, as minhas críticas ao discurso do Dia de Portugal não são pessoais. Diferentemente, são dirigidas à postura reiterada do Governo português para com Macau e a nossa comunidade aqui residente. O discurso foi aquele tão simplesmente porque o Estado português continua a não ter uma estratégia pensada para Macau (ou, provavelmente, para nenhuma das suas comunidades no exterior). O Dr. Filipe Baptista terá, naturalmente, acedido ao pedido do Primeiro-Ministro para que alguém aqui viesse representar o seu Executivo (até para evitar a segunda "falta de comparência" consecutiva) e acabou por cair na situação ingrata de "estar no lugar errado no momento errado". Fez o que considerou possível naquelas circunstâncias, mas o problema é que não era aquilo que queríamos ouvir e, com toda a certeza, não era daquilo que precisávamos. Enquanto alguém que já o conhece desde os tempos de faculdade, lamento a situação e responsabilizo o Governo português por ela.

Espero tê-lo esclarecido.
Cumprimentos

Anónimo disse...

Caro Dr. Lima Bastos,
Muito obrigado pelo esclarecimento mas fica o reparo:
Apresento-me de forma anónima para que não se confundam as minha opiniões pessoais com as minhas responsabilidades institucionais.
De forma alguma pretendi que viesse revelar o que quer que fosse da sua vida privada.
Fui apenas coleccionando alguns comentário públicos seus e do Dr. Baptista que me estavam a deixar confuso.
Entendo a sua solidariedade corporativa para com o Dr. Baptista, entendo que tenha sido apanhado "com as calças na mão", agora acho que fazer um discurso de 15 minutos sobre assuntos de governo numa representação nacional, 5 dos quais a descrever as peripécias da viagem e da perca de uma mala, e ainda por cima, dizer que em Macau "há pessoas que têm uma má disposição crónica" é uma enorme falta de respeito para com a nossa comunidade e demonstra uma enorme falta de sentido de estado. Se não sabia ao que vinha, pedia ajuda ao nosso Consúl-Geral, estou certo que o poderia ajudar.
É que nem é muito difícil encontrar temas para um bom discurso nesta ocasião.
O meu pedido de esclarecimentos sobre o assunto visou apenas dar-lhe uma oportunidade de clarificar a sua posição pública sobre o assunto, que me estava a parecer contraditória.
Juro que não tenho qualquer curiosidade sobre a sua vida privada, já na sua vida pública, o meu interesse é proporcional ao respeito que tenho pela sua pessoa.
Parabéns pela coluna no JTM (e pelo blog, claro está).
Cumprimentos

Nuno Lima Bastos disse...

Antes de mais, obrigado pelos seus comentários e pelas felicitações.

Naturalmente, só posso concordar consigo quando refere que o Secretário de Estado podia ter pedido apoio ao nosso Cônsul-Geral. Nas minhas declarações ao Ponto Final de 11 de Junho, referi que esse apoio podia ter sido solicitado ao MNE ou à Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas (SECP), mas é bem verdade que também podia ter sido pedido directamente ao Embaixador Moitinho de Almeida. Não sei se foi excesso de confiança do Dr. Filipe Baptista, falta de tempo em Lisboa, cansaço da viagem à chegada a Macau ou outra razão qualquer, mas ele falhou ao não se documentar para a intervenção que ia aqui fazer. Isso parece-me incontornável.

Por outro lado, continuo a dizer que o MNE e a SECP também têm obrigação de preparar e manter actualizados dossiês sobre as diferentes comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, e de os entregar aos membros do Governo quando estes as vão visitar. É uma questão de profissionalismo (que parece não haver neste tocante...).

Quanto à «má disposição crónica», foi uma declaração inconcebível e mereceu as respostas de Sérgio Terra e Correia Marques que mencionei na minha posta.

Finalmente, em relação às declarações do Dr. Filipe Baptista ao Ponto Final de 18 de Junho sobre «indicações diferentes» que terá recebido de «pessoas que já conhecia dos tempos da faculdade», note que a afirmação não é minha, é dele, e o meu nome nem sequer é mencionado nessa peça, seja a que título for. Logo, inferir daí que era a minha posição que estava a parecer contraditória parece-me uma inversão algo injusta do ónus da prova, ainda que perceba perfeitamente o seu raciocínio (e daí me ter disponibilizado para o esclarecer). Todas as minhas declarações sobre esta matéria - Rádio Macau em 10 de Junho, JTM de 11 e 12 de Junho, Ponto Final de 11 de Junho - vão no mesmo sentido, independentemente de quaisquer relações pessoais.

Uma vez mais, obrigado pelos seus comentários e espero tê-lo por cá mais vezes. São estas trocas de impressões que dão sumo aos blogues.

Cumprimentos.