Nuno Lima Bastos
Jornal Tribuna de Macau
18 de Setembro de 2008
Não querendo fazer desta coluna semanal um fórum de debate da língua portuguesa – até porque essa não é a minha área de formação ou de actividade profissional –, sinto-me, ainda assim, impelido a aproveitar a “embalagem” das últimas duas semanas para abordar mais algumas minudências que me chegam aos olhos e aos ouvidos quase todos os dias.
Se estava hesitante em fazê-lo, a notícia de abertura do telejornal de ontem do Canal 1 da TDM convenceu-me. Com efeito, o pivô (ou «pivot», se preferirem), ao falar da crise do sistema financeiro internacional, referiu, a dado momento, que «o índice Hang Seng encerrou a sessão com perdas na ordem dos um ponto oitenta e sete por cento» (1.87%). Já o repórter que fez a peça exibida de seguida falou, e bem, em «um vírgula oitenta e sete por cento» (1,87%). O pormenor não me mereceria, pois, qualquer destaque, não fora o facto de, diariamente (com excepção do fim-de-semana), o noticiário da TDM apresentar um quadro de «informação económica» onde as casas decimais estão sempre separadas por pontos, em vez de vírgulas, e os milhares por vírgulas, em vez de pontos ou, mais correctamente, de espaços. Em suma, redigem os números “à inglesa” (e “à chinesa” – já lá iremos).
Ora, Portugal segue o Sistema Internacional de Unidades, que determina que as casas decimais são separadas das unidades por uma vírgula e os números com mais de quatro dígitos são separados por um espaço a cada grupo de três dígitos, nunca se devendo utilizar pontos ou vírgulas nessas separações, para evitar confusões com as casas decimais. Assim, deve escrever-se 537 648,91 e não 537,648.91 ou sequer 537.648,91 – embora, neste último exemplo, o uso do ponto para separar os milhares seja uma precaução comum em situações onde exista o risco de acrescento indevido de outros algarismos, como no preenchimento de cheques (já não será o caso dos painéis de informação económica dos noticiários...). Note-se, ainda, que a regra da separação dos grupos de três dígitos com um espaço também se aplica nas casas decimais, pelo que se escreve 53,421 6. Respeitada esta norma, nunca haverá dúvidas sobre onde estão os múltiplos e as fracções da unidade (o que talvez não sucedesse com um número indevidamente redigido no formato 537.648,912.435).
Voltando ao telejornal da TDM, é frequente o pivô ler “à portuguesa” os valores do quadro da informação económica, mesmo aparecendo estes “à inglesa” nos nossos ecrãs, o que soa ainda mais estranho. Não é, então, por desconhecimento que os compõem assim. Segundo me explicou em tempos uma pessoa ligada à televisão da Xavier Pereira, o que se passa é que os computadores da régie arrancam com o software em chinês por causa do telejornal nesta língua e não há, pelos vistos, tempo para serem reiniciados com outro software que permita a redacção dos números de acordo com a convenção adoptada em Portugal. Com o devido respeito, penso que já andamos nisto há anos suficientes para se justificar um esforço que acabe com esta incongruência. Será assim tão difícil?
Falando ainda de esforços, alertado por um leitor e amigo para o estado da versão portuguesa do sítio da TDM na Internet, fui examiná-lo com mais atenção do que me é habitual e pude constatar a forte desactualização de algumas secções, mormente da «Actualidade Informativa de Macau (notícias em destaque)», que parou no dia 14 de Maio, e da «Programação TV – Directos», onde continuam anunciadas as transmissões dos dois primeiros jogos de futebol da selecção nacional no Euro 2008, realizados a 8 e 12 de Junho passado, assim como das últimas finais da Taça UEFA e da Liga dos Campeões, disputadas a 15 e 22 de Maio, respectivamente (já lá vão quatro meses). No «Desporto», ainda surgem os logótipos do Mundial 2002, do Euro 2004 e dos Jogos da Ásia Oriental 2005. Por outro lado, a programação diária parece ser actualizada apenas com um dia de antecedência, o que julgo ser manifestamente insuficiente. Pela positiva, realço as «Vídeo Notícias» (uma óptima iniciativa), que costumam estar em dia.
Quanto à área da Rádio Macau no mesmo website, as «Notícias» ainda não passaram de 17 de Agosto e a rubrica «Em Foco» do dia 18 de Julho, embora as «Outras Rubricas» estejam em ordem. A grelha da programação é que continua também parada em 17 de Agosto... mas de 2007.
Já estive inúmeras vezes nos estúdios da TDM – quer da televisão, quer da rádio – e conheço minimamente as condições em que os profissionais dos canais portugueses trabalham. Por isso, respeito-os imenso e considero que fazem muitas coisas boas, passe o simplismo da linguagem. Mas seria bom que dessem um pouco mais de atenção a estes “pormenores” que aqui refiro. O sítio português da TDM já vai em quase oitocentos mil visitantes. Não será estímulo suficiente para o actualizarem e melhorarem?
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
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