segunda-feira, 20 de julho de 2009

TurboJet lava as mãos

É sempre bom saber que as empresas de transporte colectivo de passageiros se preocupam com os seus clientes. A história que vou contar é disso elucidativa...

Estou eu em Hong Kong no último sábado à noite, quando um amigo me avisa que o sinal 8 de tufão vai ser hasteado dentro de meia-hora, às 23h00 (no meu eterno optimismo, imaginara que tal sucederia apenas durante a madrugada). Vou para a estação de metro mais próxima e arranco para o terminal de jetfoil, no Shun Tak Centre, em Sheung Wan. O último barco parte para Macau precisamente às 23h00. Os seguintes já estão cancelados. Tento adquirir bilhete, mas os funcionários dos balcões da Turbojet recusam-se a satisfazer o meu pedido e de mais meia-dúzia de pessoas. Ali perto, chamam-nos de uma agência de viagens: ainda têm alguns bilhetes para esse barco. O valor facial é de 168 HKD, mas pedem-nos 200 HKD. À falta de alternativas, sujeitamo-nos à especulação e vamos a correr para a zona de embarque. Entramos no jetfoil à justa, aliviados por irmos dormir a casa.

A festa dura pouco, no entanto: ao fim de poucos minutos de viagem - cinco, talvez -, o barco começa a abrandar a velocidade, acabando por parar. O comandante diz qualquer coisa que não percebo. O mar está calmíssimo, mas não saímos dali. Outro navio quase nos abalroa. Foi tão à justa que a sua trajectória foi seguida por todos os passageiros através das janelas, no meio de um enorme e impotente silêncio. Pouco depois, nova mensagem do comandante: temos uma avaria e é preciso regressar ao porto de Hong Kong, o que é feito em marcha lenta. Após cinco minutos atracados, a derradeira comunicação: não é possível reparar a avaria, pelo que todos os passageiros devem desembarcar. O preço do bilhete será reembolsado. E mais nada...

A tripulação estava ali, outros jetfoils da empresa também, o mar continuava aparentemente calmo, o tufão seguia na direcção oposta de Macau (ia entrar na China a Este de Hong Kong), mas não havia transporte alternativo para ninguém. Nem isso, nem comida, alojamento, satisfações ou orientações para o que quer que fosse. Governem-se!

Um canal televisivo de Hong Kong recolhe imagens nossas (foram lestos a aparecer!), sempre acompanhado por um funcionário da TurboJet ou do centro comercial, não sei bem. São ainda 23h30 ou pouco mais.

Entretanto, aparece nos ecrãs a informação de uma possível partida às 8h35, daí a nove longas horas. Alguns passageiros, presumivelmente residentes de Hong Kong, começam a ir embora. Outros, como eu, mais alguns residentes de Macau e uma mão cheia de turistas, optam por ficar ali, na expectativa (irrealista?) de que o sinal desça mais depressa e o primeiro barco possa sair mais cedo. Pelo meio, vamo-nos abastecendo e reabastecendo no 7Eleven do rés-do-chão (nunca gostei tanto de um 7Eleven na minha vida!).

Infelizmente, o sinal só desceu para 3 já de manhã e não houve, assim, barco para ninguém antes das 8h30 (as duas fotos são do movimento junto às bilheteiras às 8h00). Resultado: os bancos corridos do KFC serviram de cama para os perto de vinte resistentes do Shun Tak Centre nessa longa noite. Sem ar condicionado... Uma experiência inédita, que não tenciono repetir e não recomendo...

Quanto à TurboJet, razão tinham os democratas de Hong Kong quando se recusaram a viajar nela na sua última vinda a Macau (depois das alarvidades que Stanley Ho lhes dirigira): é uma empresa que não merece o nosso dinheiro. Para dizer o menos...

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