quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Contabilidade eleitoral

Nuno Lima Bastos
Jornal Tribuna de Macau
24 de Setembro de 2009

Encerrada que está, finalmente, a contagem (e recontagem) dos votos referentes às eleições legislativas de domingo passado, resolvi olhar para os números deste ano e de 2005, e começar a fazer comparações. Verifiquei, então, que:

– O número de eleitores inscritos passou de 220 653 para 248 708. Eram 28 055 potenciais novos votantes, um aumento de 12,71%;

– Já o número de pessoas que exerceram, efectivamente, o seu dever cívico progrediu de 128 830 para 149 006, o que significa mais 20 176 votos apurados do que há quatro anos – um crescimento de 15,66%;

– Da evolução destes dois conjuntos de valores resultou uma ténue subida da taxa de afluência às urnas, dos 58,39% de 2005 para os 59,91% deste ano (mais 1,5%). Por outras palavras, a abstenção diminuiu ligeiramente;

– A única candidatura cuja percentagem total de votos registou uma subida superior à da taxa de afluência às urnas (os 1,5% acima referidos) foi a União Para o Desenvolvimento, a lista dos operários, encabeçada por Kwan Tsui Hang (lista 12), já que teve 13,29% há quatro anos (correspondentes a 16 596 votos) e conseguiu 15,01% agora (22 101 votos). Isto é, tem mais 1,72% do total do que em 2005 (mais 5505 votos);

– As duas listas do Novo Macau Democrático venceram, no seu conjunto, estas eleições, com 28 210 votos, contra 23 489 no sufrágio anterior (mais 4721 votos), mas viram os operários encurtar um pouco a distância que os separa. Em percentagem total de votos, passaram de 18,81% para 19,16%. O mesmo é dizer, têm mais 0,35% do bolo do que antes;

– Analisando nesta perspectiva o desempenho de algumas das outras candidaturas repetentes, constatamos que Pereira Coutinho tem mais 0,95% do total de votos do que em 2005 (passou de 7,99% para 8,94%), Melinda Chan mais 0,69% do que o seu marido (de 4,87% para 5,56%), Ângela Leong mais 0,56% (de 9,32% para 9,88%) e Mak Soi Kun mais 0,52% do que o seu antecessor, Fong Chi Keong (de 6,83% para 7,35%). Com os kaifong, deu-se um fenómeno curioso: passaram de 9,60% para 10,21% (mais 0,61% do total), fruto de um reforço de 3048 votos, mas, ainda assim, perderam um deputado. Repare-se: na percentagem global dos escrutínios (que é o que decide a distribuição dos assentos parlamentares), os kaifong até cresceram mais do que os democratas (mais 0,61% contra mais 0,35%, respectivamente), mas perderam um deputado para estes, o que é bem revelador do acerto da estratégia de Ng Kuok Cheong e Au Kam San em se dividirem por duas equipas, já que isso lhes permitiu obstar ao desperdício de votos verificado em 2005;

– Chan Meng Kam não perdeu o seu companheiro de bancada, mas nem por isso se pode dar por muito satisfeito: desbaratou 2926 seguidores e emagreceu de 16,57% do total para 12,07% (menos 4,5%). O que lhe valeu foi a “reserva” de há quatro anos (os votos que então não lhe chegaram para meter o terceiro deputado);

– Já Casimiro Pinto, até conseguiu mais 39 “sins” do que Sales Marques (931 contra 892), mas deteriorou o desempenho percentual do seu predecessor (0,63% do total, contra 0,71% – uma descida de 0,08%). Um fraco resultado; ainda mais, tendo em conta o esforço de alargamento do projecto a outras comunidades. Até Lee Kin Yun, o jovem radical da lista 9, conseguiu ultrapassar a Voz Plural, quase duplicando a votação obtida em 2005 (de 655 para 1162 votos) e passando de 0,52% para 0,79% do total de boletins apurados – e, praticamente, sem quaisquer meios...

Dos valores acima apresentados, pode concluir-se, com segurança, que o desempenho das diversas candidaturas se manteve bastante estável, apenas se destacando o “pulo” dos operários e a penalização do grupo de Fujian; contudo, em ambos os casos, sem qualquer efeito prático no número de deputados conquistados. Aliás, como também pudemos constatar, a única “transferência da época” deveu-se, tão-somente, a uma inteligente gestão do seu “mercado” pelos democratas.

Resta acrescentar que, assumindo as listas 4 e 15 como duas partes do mesmo corpo, os doze lugares da Assembleia Legislativa a preencher por sufrágio directo e universal ficaram, uma vez mais, nas mãos de oito concorrentes, que açambarcaram 88,18% dos votos apurados (mais 0,9% do que em 2005 – 87,28% –, provavelmente por efeito da diminuição do número de listas que se apresentaram a votos).

Nota: agradeço ao Bairro do Oriente a selecção desta crónica para as suas «Leituras» da semana.

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