17 de Julho de 2008
Precisamente quando cogitava sobre o que haveria de escrever esta semana, bloqueado por uma manifesta falta de inspiração, eis que recebo a proposta de alteração estatutária que vai hoje a votos na assembleia-geral anual da Casa de Portugal em Macau (CPM).
Da convocatória recebida há alguns dias, depreendera já que se pretendia consagrar estatutariamente o cariz desportivo que a associação vem assumindo de facto há alguns anos, presumo que também para facilitar o acesso a apoios públicos nesta área.
Percorrendo apressadamente o documento, encontro, contudo, outras interessantes propostas: por exemplo, a de se incluir nos fins da CPM a criação de «núcleos de acção cultural e de formação que se mostrem adequados à permanente valorização das competências e saberes dos membros da comunidade portuguesa», assim como «fomentar a cooperação e o conhecimento mútuo das respectivas culturas com as demais comunidades residentes em Macau, nomeadamente as restantes comunidades de língua portuguesa».
Isto faz-me recordar um desejo de longa data: que as comemorações do 10 de Junho sejam uma montra de Portugal para toda a população do território. Não seria muito mais interessante e gratificante para todos nós que, em vez de uma recepção aberta no antigo Belavista (ou a par dela), houvesse uma celebração alargada no Largo do Senado, onde fossem dados a conhecer a história, a cultura e os produtos portugueses – incluindo dois dos mais apreciados, a gastronomia e o desporto? Não falo apenas de uma espécie de feira, mas de algo bem mais elaborado: painéis com fotografias do nosso país e informação em várias línguas, um ecrã gigante com vídeos das diferentes regiões do país e dos muitos eventos internacionais que ali têm decorrido na última década (e tenho visto alguns muito bem conseguidos da responsabilidade do Turismo de Portugal, I.P.), balcões de empresas portuguesas e dos seus produtos, um palco onde decorressem iniciativas culturais e intervenções oportunas de representantes do Governo português, etc. Ambicioso? Talvez. Impossível? De modo nenhum! É uma questão de se começar. Se um projecto destes tiver receptividade das autoridades, empresas e associações portuguesas, poderá crescer paulatinamente e assumir-se como um grande evento dentro de poucos anos.
Paralelamente, há pequenas ideias que são muito bem acolhidas pela população local e despertam a sua atenção para a nossa comunidade e o nosso país. Um desses casos sucedeu em 2004, quando Portugal organizou o campeonato da Europa de futebol: os jardins do nosso consulado geral em Macau foram preenchidos com réplicas em tamanho real dos jogadores da selecção nacional e, de repente, toda a imprensa chinesa falava nisso e ninguém que ali passasse permanecia indiferente à iniciativa. Pena foi que não tivesse tido continuidade.
Voltando aos estatutos da CPM, reparei que prevêem a criação de grupos de trabalho, fóruns de debate e observatórios, assim como a existência de um conselho consultivo, que nunca foi constituído em sete anos de funcionamento da CPM.
Confesso-me algo avesso a estes conselhos, que costumam servir apenas para atribuir posições honoríficas a pessoas que nada de útil fazem pela agremiação, limitando-se a se pavonear nas fotografias e nos repastos ao lado das individualidades, pelo que talvez fosse melhor simplesmente expurgar este órgão dos estatutos.
Já quanto aos fóruns de debate e afins, lamento que nunca tenham tido grande expressão ou, pelo menos, existência mais regular, porque a comunidade carece de debate e tem gente competente para o fazer, como se viu na passada sexta-feira, na sessão de lançamento do novo livro de Arnaldo Gonçalves, O Poder e o Direito. E, sem desprimor para algumas palestras e tertúlias já promovidas pela CPM sobre temas mais ou menos inócuos, ainda que úteis (e reconheço o esforço de quem as organizou), do que precisamos é de debate sério e temas quentes! Para quando um debate sobre o funcionamento das instituições portuguesas em Macau (o IPOR, a Escola Portuguesa, o consulado, até as associações)? E outro sobre o uso da nossa língua na administração e nas concessionárias de serviços públicos, com as conclusões enviadas por escrito às visadas? E outro sobre o acompanhamento da comunidade portuguesa pelos partidos políticos nacionais, incluindo os seus representantes parlamentares, igualmente com os pontos fortes transmitidos aos visados (já basta de turismo à conta do erário público...)? E outro sobre o desenvolvimento do sistema político de Macau, tão na ordem do dia?
Matéria não parece faltar. É uma questão de não nos auto-amordaçarmos, como ouvi dizer há uma semana. Por onde querem começar?
Da convocatória recebida há alguns dias, depreendera já que se pretendia consagrar estatutariamente o cariz desportivo que a associação vem assumindo de facto há alguns anos, presumo que também para facilitar o acesso a apoios públicos nesta área.
Percorrendo apressadamente o documento, encontro, contudo, outras interessantes propostas: por exemplo, a de se incluir nos fins da CPM a criação de «núcleos de acção cultural e de formação que se mostrem adequados à permanente valorização das competências e saberes dos membros da comunidade portuguesa», assim como «fomentar a cooperação e o conhecimento mútuo das respectivas culturas com as demais comunidades residentes em Macau, nomeadamente as restantes comunidades de língua portuguesa».
Isto faz-me recordar um desejo de longa data: que as comemorações do 10 de Junho sejam uma montra de Portugal para toda a população do território. Não seria muito mais interessante e gratificante para todos nós que, em vez de uma recepção aberta no antigo Belavista (ou a par dela), houvesse uma celebração alargada no Largo do Senado, onde fossem dados a conhecer a história, a cultura e os produtos portugueses – incluindo dois dos mais apreciados, a gastronomia e o desporto? Não falo apenas de uma espécie de feira, mas de algo bem mais elaborado: painéis com fotografias do nosso país e informação em várias línguas, um ecrã gigante com vídeos das diferentes regiões do país e dos muitos eventos internacionais que ali têm decorrido na última década (e tenho visto alguns muito bem conseguidos da responsabilidade do Turismo de Portugal, I.P.), balcões de empresas portuguesas e dos seus produtos, um palco onde decorressem iniciativas culturais e intervenções oportunas de representantes do Governo português, etc. Ambicioso? Talvez. Impossível? De modo nenhum! É uma questão de se começar. Se um projecto destes tiver receptividade das autoridades, empresas e associações portuguesas, poderá crescer paulatinamente e assumir-se como um grande evento dentro de poucos anos.
Paralelamente, há pequenas ideias que são muito bem acolhidas pela população local e despertam a sua atenção para a nossa comunidade e o nosso país. Um desses casos sucedeu em 2004, quando Portugal organizou o campeonato da Europa de futebol: os jardins do nosso consulado geral em Macau foram preenchidos com réplicas em tamanho real dos jogadores da selecção nacional e, de repente, toda a imprensa chinesa falava nisso e ninguém que ali passasse permanecia indiferente à iniciativa. Pena foi que não tivesse tido continuidade.
Voltando aos estatutos da CPM, reparei que prevêem a criação de grupos de trabalho, fóruns de debate e observatórios, assim como a existência de um conselho consultivo, que nunca foi constituído em sete anos de funcionamento da CPM.
Confesso-me algo avesso a estes conselhos, que costumam servir apenas para atribuir posições honoríficas a pessoas que nada de útil fazem pela agremiação, limitando-se a se pavonear nas fotografias e nos repastos ao lado das individualidades, pelo que talvez fosse melhor simplesmente expurgar este órgão dos estatutos.
Já quanto aos fóruns de debate e afins, lamento que nunca tenham tido grande expressão ou, pelo menos, existência mais regular, porque a comunidade carece de debate e tem gente competente para o fazer, como se viu na passada sexta-feira, na sessão de lançamento do novo livro de Arnaldo Gonçalves, O Poder e o Direito. E, sem desprimor para algumas palestras e tertúlias já promovidas pela CPM sobre temas mais ou menos inócuos, ainda que úteis (e reconheço o esforço de quem as organizou), do que precisamos é de debate sério e temas quentes! Para quando um debate sobre o funcionamento das instituições portuguesas em Macau (o IPOR, a Escola Portuguesa, o consulado, até as associações)? E outro sobre o uso da nossa língua na administração e nas concessionárias de serviços públicos, com as conclusões enviadas por escrito às visadas? E outro sobre o acompanhamento da comunidade portuguesa pelos partidos políticos nacionais, incluindo os seus representantes parlamentares, igualmente com os pontos fortes transmitidos aos visados (já basta de turismo à conta do erário público...)? E outro sobre o desenvolvimento do sistema político de Macau, tão na ordem do dia?
Matéria não parece faltar. É uma questão de não nos auto-amordaçarmos, como ouvi dizer há uma semana. Por onde querem começar?
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